Nos contos de “Te Pego Lá Fora”, o autor executa habilmente a difícil (e raras vezes atingida) transposição da oralidade cotidiana da periferia para uma expressão literária. Formas coloquiais como ‘prôfi’, ‘prussôr’ ou ‘quem quisé fazê’ permeiam os textos, amparadas pela versatilidade formal que vai do microconto (“Pedido Irrecusável”, “Medo”) à dramaturgia de “A Queda”, passando por narrações em primeira pessoa (“O Livro Negro”, “Um Estranho no Cano”) e cômicas histórias estruturadas em diálogos como “Socá pra dentro” e “Boi na linha”. A resistência armada de palavras prevalece no beligerante ambiente escolar, mesmo no embate com o corporativismo afetivo das autoridades (“Papo Reto”). A divisão do livro em estações do ano é engenhosa, gerando uma leitura vertiginosa, potencializada pelos grafismos hipnóticos da edição que lembra um caderno escolar.