Antes de mais nada veja-se que o problema filosófico apresentado por Nietzsche não é a erudição, conveniente para todo pesquisador que visa compreender o debate sobre um tema e apresentar novas visões e novas versões sobre um problema existente. Todos os grandes filósofos foram eruditos. A decadência vital, portanto, se encontra no eruditismo, que na filosofia de Nietzsche se configura como o dispositivo hipertrofiado de um intelecto que visa apreender o conhecimento como uma armadura epistêmica que, ao fim e ao cabo, protege o frágil sujeito de sua imersão com a imanência do mundo. O eruditismo é assim uma forma cognitiva que se contrapõe ao espírito trágico e sua inerente impossibilidade de resolução das contradições da vida. O tipo erudito conforme Nietzsche não é apenas um acumulador de conhecimento, mas alguém que, repleto de conteúdos heteróclitos em sua mente, visa desviar o foco de sua existência da contemplação do grande abismo, para assim se manter plácido em sua ignorância acerca do poder dionisíaco que perpassa a vida. O eruditismo não fomenta a formação pessoal singular pois impossibilita o discernimento seletivo acerca do que é útil ou inútil para a vida. O conhecimento deve estar ao serviço do homem e não o homem ao serviço do conhecimento, tal como os formalistas e tecnocratas do pensamento defendem como máxima universal.