Eliana Mara Chiossi é uma escritora que permite ao texto perceber o seu sentido mais feminino, provocando aqui e ali uma subversão perante ideias preconcebidas. Em seu primeiro livro, Fábulas Delicadas (Escrituras Editora), são valiosas as passagens em que fala da semelhança com Deus, da hipótese de ser amante de Hitler ou da possibilidade de se chamar Agnes e correr para "entregar beijos tolos e minhas ideias vagas". É de uma mulher impossível que aqui se trata, como diz a dada altura, uma mulher universal que, mais do que outra coisa, pensa. Este livro coloca, sem rodeios ou medos, uma mulher pensando sobre todos os assuntos a partir do seu lugar: onírico, romântico, delicado, persistente; sendo profundamente crítica, chegando ao sarcasmo um tanto velado, tão bem construído que chega a ser sobretudo bela poesia para o leitor mais incauto. Segundo Valter Hugo Mãe, no texto das orelhas do livro, "é pelo lado mais insuspeito que tudo acontece. Como se fôssemos lendo por gozo e usufruíssemos, principalmente, de uma desconstrução grande do que é esperado do papel da mulher. Adoro que assim seja, com o preconceito falocrático absolutamente ofendido, para que a visão das coisas se possa completar. Para que o ser humano se assuma também com todo o seu esplendor feminino: forte e inteligente."