Acontece de uma pequena cobra se alinhar na coluna vertebral daqueles que aceitam. Assim começa este belo e instigante romance de Camilla Loreta. Um início que já aponta um caminho, é um livro-travessia, e transita entre diferentes realidades, entre a vigilia e o onírico, entre o corpo e o espírito, passado e presente, matéria e reflexo. A protagonista, Léia tem um pai. Senta com ele à mesa da cozinha, come pão feito em casa e se pergunta se ele sente falta da mulher que morreu, como se tentasse resgatar nesse pai alguma lembrança intransponível. Ambos moram em Lublin, na Polônia. No passado dela no Brasil. A mulher que morreu é a mãe de Léia. O pai é tradutor. E há James, o astronauta que faz anotações num caderno vermelho. Um astronauta pode viajar para outros planetas. Mas é um acontecimento muito específico que a leva Léia (a personagem que carrega em seu nome o imperativo da leitura) a essa travessia: uma queda do corpo, a visão enevoada, os pés e mãos quentes. Uma (...)