A conhecida obra de Machado de Assis, Memórias Póstumas de Brás Cubas, ganha neste estudo de Valentim Facioli uma abordagem reveladora. Em "Um defunto estrambótico", o autor, fazendo uso de um termo até certo ponto machadiano - o significado de estrambótico e sua variante estrambólico é pouco conhecido - lê esse defunto-narrador como uma metáfora de um Brasil escravista, "carcomido" por contradições entre o arcaico e o moderno, e se esse é um ponto forte da sua análise, não é só essa implicação que Facioli analisa. Por outro lado, sendo Brás Cubas uma paródia ao nome do colonizador português, não estaria Machado dando nome aos bois e, por extensão, dando ao seu personagem um pouco daquilo que significou a colonização do Brasil feita à moda portuguesa, com todas as suas implicações, sendo Brás Cubas um cavalheiro rico e ´ilustrado´? Esta análise enfrenta as traições que espreitam cada dobra da narrativa, especialmente as astúcias, máscaras, meias-verdades, meias mentiras e fraudes perpetradas pelo narrador-defunto, cujas memórias são também uma memória do Brasil para a posteridade, feitas com humor, ironia e sátira, misturadas com doses de melancolia, ruína e morte. É o registro de Machado para um mundo de personagens amalucadas que justifica o título ´estrambótico´ sacado pela análise de Valentim Facioli, a qual busca um acordo com um leitor astuto e democrático.