O trabalho de Flávio José Gomes Cabral nos oferece a oportunidade rara de conhecer aquela que parece ter sido a primeira manifestação sebastianista coletiva do Brasil colonial. Ancorado em sólida base documental, seu texto apresenta uma das interpretações possíveis para a aventura de homens e mulheres humildes do agreste pernambucano que sonharam construir a Cidade do Paraíso Terrestre. Reunida em torno de uma pedra que acreditavam sagrada, e de qual sairia D. Sebastião e seu exército, a comunidade do Rodeador foi espionada pelas tropas monárquicas e violentamente debelada em outubro de 1820. Ao resgatarem o mito encoberto e a força da crença sebástica, surgida em Portugal na esteira dos acontecimentos que se seguiram à derrota portuguesa frente aos mouros no Marrocos, no final do éculo XVI, os líderes do arraial esperavam que a chegada de D. Sebastião inaugurasse um novo tempo de fartura e felicidade. Ao reencontrarmos o rei desejado nas páginas desse livro, reencontramos também as raízes profundas de parte importante de nossa história.