A idéia de lei divina transformou-se em algo estranho e mesmo chocante para alguns. No entanto, essa idéia dominou as crenças e práticas durante quase três milênios. A aliança de Deus com a lei, celebrada na Grécia antiga e na tradição bíblica, ganhou roupagem diferente no judaísmo, no cristianismo e depois no islã. A proposta de Rémi Brague é traçar a história de sua longa gênese, de sua plenitude contrastada no seio das três religiões medievais, da dissolução, enfim, da modernidade européia, debruçando-se sobre os textos fundadores da filosofia e do pensamento religioso. No judaísmo da dispersão, a lei representava a única presença de Deus junto ao povo hoje privado de seu reino e de seu templo: ela coincidia com Deus. É no cristianismo que vai nascer e se manifestar sua separação. O Deus cristão deixou de ser somente o legislador do tempo dos hebreus, Ele é a fonte da consciência humana e transmite a graça que permite obedecer-lhe. Esta separação acabara talhando as instituições políticas, da cristandade medieval, Império e Igreja. O Islã, ao contrário, se construirá progressivamente numa religião em que a lei se coloca no centro de tudo: ela pretende administrar o conjunto de praticas humanas desde o declínio do califado. Aqui, ao contrario das duas religiões bíblicas, é Deus deve dita-la diretamente. Com a modernidade, a aliança de Deus e da lei vai ser denunciada antes de se ver expulsa da cidade: nosso Deus deixou de ser legislador, nossa lei deixou de ser divina. Mas o que é um mundo em que o homem pretende ser o único soberano? Como a uma lei sem trações do divino pode dar razões para viver?