Em comemoração aos duzentos anos da chegada da Família Real ao Rio de Janeiro, a Prefeitura do Rio e a Editora Senac Rio lançam A saúde pública no Rio de Dom João. O livro, que reúne duas obras escritas à época da vinda da corte portuguesa ao Rio de Janeiro, traça um panorama do clima e das principais enfermidades que afligiam a população e relata as propostas de saneamento básico para a cidade nas duas primeiras décadas do século XIX. O livro chega às livrarias de todo o país em março. A Comissão para as comemorações do bicentenário da chegada de D. João e da Família Real ao Rio de Janeiro, nomeada por decreto do prefeito Cesar Maia, selecionou as duas obras que compõem essa reedição. O título, além de retratar as condições da saúde pública na cidade, relembra os duzentos anos do início da imprensa e da atividade editorial no país. Com prefácio de Moacyr Scliar, a obra é ilustrada com imagens do acervo da Biblioteca Nacional. Escrito em 1808, logo após o desembarque de D. João, Reflexões sobre alguns dos meios propostos por mais conducentes para melhorar o clima da cidade do Rio de Janeiro, de Manoel Vieira da Silva, é o primeiro texto médico publicado no Brasil. A obra destaca a influência do clima quente e úmido sobre o solo e os habitantes da cidade. Ressalta que o ar das regiões pantanosas poderia causar doenças e sugere o aterramento dessas áreas. Vieira da Silva propõe a construção de uma área para quarentena dos escravos recém-chegados ao Rio, vistos como possíveis portadores de moléstias. O autor ainda denuncia a falta de higiene nos matadouros e a má conservação dos alimentos nos açougues. O segundo texto é de autoria de Domingos Ribeiro dos Guimarães Peixoto, Cirurgião da Câmara de El-Rei Nosso Senhor, e foi publicado em 1820, pouco antes da volta de D. João VI para Portugal. Seguindo um costume da época, o título é tão comprido quanto adulador: Aos Sereníssimos Príncipes Reais do Reino Unido de Portugal e do Brasil, e Algarves, os Senhores D. Pedro de Alcântara e D. Carolina Josefa Leopoldina oferece, em sinal de gratidão, amor, respeito e reconhecimento estes prolegômenos, ditados pela obediência, que servirão às observações, que for dando das moléstias cirúrgicas do país, em cada trimestre. Em comum com a primeira obra há a relação que os autores sugerem entre a topografia da cidade e o ar atmosférico quente e úmido com a origem das doenças. Guimarães Peixoto aponta a importância da chegada da Família Real para o avanço na saúde pública carioca e brasileira, mas ressalta que em tão pouco tempo (aproximadamente 12 anos) não seria possível acabar com as causas dos problemas e pôr em prática o saneamento básico. O texto enumera as condições desfavoráveis à higiene pública, como águas estagnadas em ruas e quintais, cadáveres enterrados nas igrejas, cavalariças e cocheiras entulhadas de esterco e falta de limpeza nos matadouros. O aleitamento materno e suas vantagens para a mãe e o bebê são fortemente defendidos pelo autor, que condenava a saúde das amas-de-leite.