Cruz e Sousa é singular em termos étnicos e existenciais. Isto é deixado bem claro por Uelinton Farias desde o começo do texto, ao caracterizá-lo como "negro retinto", de origem banta, sem qualquer mescla de sangue europeu, logo "diverso em origem de muitos homens negros que lhe seriam contemporâneos, entre os quais Machado de Assis, José do Patrocínio, Luiz Gama, Ferreira de Araújo, Olavo Bilac, Alcindo Guanabara, Capistrano de Abreu, Barão de Cotegipe, André Rebouças e muitos outros". E ao contrário de outros biógrafos, ele não hesita em afirmar que Cruz e Souza, "o menino João da Cruz", se não nasceu escravo, foi ao menos meio-escravo: embora tivesse mãe alforriada, a escravidão pesava sobre o corpo de seu pai. Cruz e Sousa é um dos escritores que todo brasileiro deve conhecer. Não só por sua importância na literatura do Brasil, mas também pela beleza de sua arte. O poeta nasceu no Desterro, atual Florianópolis, em 1861. Filho de escravos, estudou graças ao empenho e à determinação dos seus pais, que, embora fossem completamente analfabetos, não desejavam o mesmo destino para o filho. Apesar de todos os obstáculos advindos da discriminação racial, Cruz e Sousa tornou-se um dos grandes expoentes da poesia simbolista, ao lado de grandes nomes, como Mallarmé, poeta francês. O Poeta Negro também militou pelas causas abolicionistas, utilizando-se de sua posição na tribuna e nos jornais da época. Deixou uma imorredoura obra literária, certamente uma das mais belas da língua portuguesa.