Uma hora o feitiço vira contra o feiticeiro. Como editor do Guia Folha Livros, Discos, Filmes, passei oito anos pedindo para Reynaldo Damazio escrever resenhas que deveriam ter entre 800 e 1500 caracteres (o projeto gráfico impunha tal concisão). Não era apenas uma resenha por vez, mas um pacote de cinco ou seis livros que ele devia ler e resenhar num prazo obsceno, para que a publicação, de periodicidade mensal, pudesse acompanhar os lançamentos mais recentes sem perder atualidade para os cadernos culturais diários dos outros jornais e da própria Folha de S. Paulo. Agora, por ironia, cabe a mim resumir, em espaço de exiguidade semelhante, as virtudes das resenhas aqui reunidas por Reynaldo. Crítica de trincheira inclui textos escritos não apenas para o Guia, mas também para outras publicações que Reynaldo editou ou nas quais colaborou com conhecimento e poder de síntese invejáveis. E sem deixar de inserir, nas entrelinhas ou num ágil arabesco de prosa, uma avaliação personalíssima da obra e do autor analisados. Lidas em conjunto, as resenhas revelam temáticas poesia contemporânea, literatura latino-americana, HQ em que a acuida­de crítica de Reynaldo mais se manifesta. Isso explica que resenhas de livros nessas áreas apareçam em maior quantidade. Afinal, nenhum editor minimamente lúcido iria desperdiçar o talento do resenhista em seu campo de excelência, pautando-o sempre com obras desses gêneros. Não é por acaso, portanto, que Crítica de trincheira se abra com uma análise iluminada de livro do poeta Paulo Henriques Britto e se feche com a resenha (excepcionalmente mais longa do que as demais) de uma graphic novel. Mas quem sempre esteve na trincheira da crítica não escolhe o alvo, nem teme o risco de avaliar no calor da hora de modo que não há qualquer exagero em dizer que a excelência das resenhas de Reynaldo Damazio se faz presente em todos os fronts do jornalismo cultural. Manuel da Costa Pinto