Ó Hermógenes, filho de Hipónico, há um antigo provérbio que diz que as coisas belas são difíceis, quando se trata de aprender; e a aprendizagem dos nomes não será com certeza coisa pequena" (384a-b), diz Sócrates no começo deste diálogo. De facto, a tarefa de Sócrates e dos seus interlocutores não é de pequena monta, pois consiste em determinar a origem dos nomes: são eles estabelecidos pelo costume e a convenção entre os homens, como defende Hermógenes, de tal maneira que a sua origem é arbitrária e o "nome que alguém puser a cada coisa, esse será o nome correcto" (384d); ou "cada um dos seres tem um nome correcto que lhe pertence por natureza" (383a), como sustenta Crátilo? Ou seja, há uma relação natural entre os sons e os significados veiculados através deles (o que faria com que, no limite, as palavras fossem todas onomatopaicas) - por exemplo, o r é indicativo da mudança? Ou as letras são desprovidas de sentidos intrínsecos, ganhando-os apenas quando deles são investidos pela comunidade humana? O Crátilo conta ainda com a discussão das etimologias de mais de 140 nomes gregos, próprios e comuns, uma passagem que tem suscitado dificuldades de interpretação entre os comentadores, que também não concordam quanto à localização do diálogo no corpus platónico, dado o seu conteúdo relativamente atípico.