A ideia do livro Reprodução assistida e relações de gênero na América Latina, surgiu a partir do Grupo de Trabalho número 34, da última Reunião de Antropologia do Mercosul, realizada no Uruguai em 2015. A ocasião permitiu uma reflexão que impôs às organizadoras o desafio de sistematizar e atualizar o debate em torno de um conjunto de questões que vêm se modificando com as tecnologias conceptivas em reprodução assistida e com as tecnologias de preservação da fertilidade. A relevância desta iniciativa reside no fato de persistir, apesar de iniciativas nesta direção, uma quase ausência reflexiva nos espaços diversos da sociedade e, particularmente, na academia, na qual sempre emerge secundarizado em relação às demais problemáticas relacionadas à experiência reprodutiva. Do ponto de vista público falar sobre reprodução humana parece ser assunto secundário. Dificilmente os discursos em torno das práticas, ou do tema, se conectam aos desafios demográficos, sanitários, de cuidado, de políticas públicas ou aos desafios e controvérsias legislativas a estes relacionados. Tampouco apresentam conexões com os arranjos familiares necessários ao processo de tratamento, ou com as discussões no campo da sexualidade, da bioética, da filiação, do parentesco, do direito, das políticas públicas e ou das próprias pesquisas dos profissionais das clínicas e dos pesquisadores de diferentes áreas. Somando-se a estas as relações com a indústria farmacêutica, da circulação de gametas, úteros e embriões. Isto significa que o tema da reprodução e do desejo de filhos, de casais homossexuais e heterossexuais e das pessoas solteiras que querem ter filhos, parece configurar-se, ainda hoje, como de foro privado e íntimo, ainda que as pesquisas no âmbito das ciências sociais já tenham indicado sua relevância social e apontado as dimensões éticas, políticas, econômicas e socioculturais implicadas.