O livro de Elaine Ribeiro contribui de forma inovadora para a investigação da história dos trabalhadores em Angola. Atenta à historicidade das políticas portuguesas de controle de mão de obra africana, sobretudo a partir da abolição do tráfico transatlântico de escravizados, a autora desloca o foco da análise dos debates políticos e legislativos e dos empreendimentos de recrutamento forçado para o cotidiano de alguns trabalhadores centro-africanos. Esse deslocamento acaba por revelar tensões, resistências e negociações numa complexa e longa história de dependência dos europeus em relação aos africanos, demonstrando ainda a impossibilidade de reduzir os sujeitos deste cenário aos binômios conquistador/ conquistado ou colonizador/ colonizado.A dependência dos estrangeiros em relação ao trabalho dos carregadores, guias, caçadores e intérpretes africanos data dos tempos do tráfico e da escravização e remete a complexos mecanismos de poder que envolveram tanto a administração portuguesa quanto as próprias elites africanas. A expedição comandada pelo militar português Henrique Augusto Dias de Carvalho a Mussumba, centro politico de Lunda, entre os anos de 1884 e 1888, arregimentou e traiu diferentes grupos de trabalhadores africano.