A vocação para nos tornarmos humanos nos é, originalmente transmitida por uma voz. Esta "sonata materna" é recebida pela criancinha como um guia interior que a destina à fala e, assim, à alteridade. A hipótese de que uma tal pulsão invocante existe é decisiva, pois nos permite pensar de outra forma as relações entre lei e desejo, pulsão de vida e pulsão de morte, criação e melancolia. Com audácia, Alain Didier-Weill nos convida a refletir sobre, entre outras questões, a estranha surdez de Freud com relação à musica, em particular na tragédia grega, cuja figura central ele desconhece: Dionísio. Dois pequenos estudos sobre Moises e São Paulo intervêm como contraponto a esta meditação acerca do enigma que a voz materna constitui. Há conjunção ou encontro impossível entre a vocação na qual se engaja uma fala em busca de sentido e a invocação que a anima quando ela é guiada pelo som? Por meio desta pergunta são abordados os laços da psicanálise com a tripla herança: grega, cristã e bíblica.