Faz algum tempo que concluí o meu delito. Não se trata, contudo, de mais um crime, realizado às pressas, como tantos outros. A minha obra é, com efeito, um consumado objeto de arte. Eu a executei com toda a perícia, argúcia e artimanhas necessárias, todos os cuidados e aparatos possíveis, as luzernas acesas, enquanto combatia o alvo silêncio dos urinóis. É claro, procuro não jactar-me sempre de minha realização. Muitos de meus inimigos ainda estão à espreita, à espera de um deslize, qualquer coisa, por mais insignificante que pareça, a fim de capturar-me e conduzir-me aos verdugos do castelo. Eles aguardam-me, com certeza, há séculos, debaixo dos patíbulos, dos corredores úmidos e friorentos das prisões ignoradas, com seus dentes de metal e garras aduncas, ferindo-me a pele, lâmina causticante, com a luz dos candelabros incendiados nos porões de meu inferno.