Este livro resulta de um dos maiores privilégios que tive em minha vida: orientar a primeira dissertação de mestrado sobre Filosofia Africana defendida na Filosofia em nosso país. E esta felicidade surge de um reencontro nas encruzilhadas da universidade. Rodrigo dos Santos, companheiro desde a década de noventa, ator admirável, pessoa querida, filho de Oxóssi, transbordava alegria com a ideia de fazer algo novo. Em uma dessas conversas, lancei o desafio para que ele escrevesse a partir de suas questões. Pouco tempo depois, em uma aula sobre Derrida, em que eu apresentava a crítica ao logocentrismo, Rodrigo foi atingido, ainda não sei se pela flecha de Odé ou pela pedra que Exu lançou, e me lança um conceito por demais belo e complexo: o Baraperspectivismo. Lembro do entusiasmo de Rodrigo (e preciso lembrar a etimologia da palavra que, ao pé da letra, quer dizer possuído por deus) e de minha excitação com algo tão potente: Exu contra o logos, o corpo contra a razão, o corpo que é também razão contra a razão que não quer ser corpo, o movimento contra o estático, a África contra a Grécia. Ao mesmo tempo, e num só golpe de Ogó (pois todo golpe de Exu é sempre duplo), toda reviravolta ou toda gira que Exu provoca ao entrar em cena, com a destituição dos centros e a promoção de um movimento às margens, às periferias, aos terreiros e a toda perspectiva descentralizante, ex-orbitante e pluriversal que o senhor do corpo traz consigo. Firmamos naquele dia nosso pacto com Exu: trazer ao papel sua filosofia, a partir do encontro, naquelas encruzilhadas do IFCS, destes três irmãos que, naquele momento, apontavam para uma jornada que se estende até hoje. Exu, para ser tocado pelas mãos do Ogã de Odé, promove seu reencontro com esse filho de Ogum que, em nada podendo orientar, só poderia entrar na luta tendo como grito de guerra a abertura dos caminhos. Assim, e só por isso, fui à frente. Mas não poderia fazer isso sem a sabedoria de outro filho do caçador a meu lado. E foi ent