A presença da filosofia cética nos Ensaios de Montaigne (1533-1592) foi há muito conhecida, em especial naquele que é o mais longo e mais claramente filosófico de seus capítulos, a ologia de Raimond Sebond. As interpretações desse fato, porém, foram bastante divergentes; tanto esses elementos céticos foram reconhecidos como desimportantes ou secundários para compreender a particularidade desse autor, quanto conduziram a vê-lo como o representante por excelência do ceticismo (como fez Pascal). Igualmente, diversas foram as interpretações desse ceticismo. Contudo, a despeito da recente voga de publicações internacionais sobre a filosofia dos Ensaios, pouco se fez no sentido de examinar a estrutura argumentativa dessa Apologia, buscando identificar, de um modo sistemático e detalhado, os ecos do ceticismo antigo, tal como encontrado por Montaigne nas fontes filosóficas que efetivamente consultou. É a isso que se propõe este trabalho, e o seu resultado mais geral é o de mostrar que tal presença cética é maior e filosoficamente mais precisa do que se costuma perceber