Inspirado em Pesquisas arqueológicas e genealógicas do filósofo Michel Foucault, este livro coloca-se o seguinte problema: quais as condições de possibildade do aparecimento da infância na Modernidade? E propõe uma forma de abordagem dessa questão: a partir do momento em que ser um sujeito racional - tanto do ponto de vista epistêmico, quanto moral - constitui-se em um imperativo de culturas ocidentais, a infância surge em uma posição de alteridade à razão. Nessa perspectiva, a escolarização moderna cumpre um papel crucial: ela promove a separação das idades, o confinamento dos pequenos e sua rigorosa moralização. A educação disciplinar configura-se como o instrumento por meio do qual os infantis podem realizar sua virtualidade racional. Nesse sentido, este livro delineia três modos de subjetivação infantil. A infância comeniana situa-se nos níveis elementares de uma progressão racional, cuja plenitude encontra-se em Deus. A rousseauniana constitui-se como o outro da razão humana e é espontaneamente orientada para a razão. E a freudiana tensiona permanentemente o projeto racionalista moderno. Ademais, tais formas de subjetivação mantém distintas relações com a educação disciplinar e o ideal de renúncia, que lhe concerne: a infância comeniana elabora-se em suas dobras, a rousseauniana incorpora a resistência infantil a tal técnica de governo e a freudiana propõe uma abordagem clínica de seus efeitos sobre os infantis. Além disso, cada uma dessas modalidades de elaboração de si constitui formas próprias de resistir à infantilização: na comeniana é a insdisciplina; na rousseauniana é o desvio psicopedagógico ou a anomalia psiquiátrica; e na freudiana é o gozo de sua potência sexuada e mortífera.