Os processos de transmissão de memórias e uso do território urbano associados à experiência da migração constituem a base da análise apresentada neste livro que dirige sua atenção para a Feira de São Cristóvão, conhecida, desde seu surgimento na década de 1940, como o Nordeste no Rio de Janeiro. Importante lugar de memória da comunidade migrante, o espaço será observado a partir das memórias em circulação por meio de folhetos de cordel, depoimentos e acervos pessoais de cordelistas nordestinos em atividade na cidade do Rio de Janeiro entre a segunda metade do século passado e a primeira década deste século. Por se tratar de uma manifestação cultural distanciada dos códigos hegemônicos no Sudeste do Brasil e, por sua vez, chave para o grupo frequentador do espaço em pauta, as vozes do cordel e dos cordelistas revelam-se de grande valor para a discussão de questões relacionadas à migração, à ocupação do espaço urbano por grupos minoritários, à transmissão de memórias e aos diálogos interculturais, temas que, com o avanço dos processos de globalização cultural e valorização dos patrimônios culturais tradicionais, vêm se afirmando tanto no debate público quanto no debate acadêmico.