Neste livro, Maria das Graças Leal desenvolve um importante estudo biográfico sobre Manuel Raymundo Querino (1851-1923). A autora apresenta as várias faces deste sujeito singular e plural, ao tecer um enredo que revela a história de sujeitos incógnitos, fazendo ressoar vozes silenciadas pela historiografia tradicional. À medida que a sua trajetória é revelada, a história política e social do trabalho e da arte e a trajetória de outros homens que viveram, criaram, produziram, lutaram, puderam ser retiradas da penumbra. Uma versão da história vista pela ótica do oprimido é construída com cores, movimento, luminosidade, ao valorizar a existência de pessoas reais que enfrentaram dificuldades e conquistaram vitórias reais. Brasileiro afrodescendente, nascido em Santo Amaro da Purificação-Bahia, viveu intensamente acontecimentos significativos da história do Brasil, e da Bahia em particular, que marcaram os anos finais do Império e iniciais da República. Da sua base operária, enveredou pelo mundo da política partidária, na medida em que desenvolvia o talento de artista, diplomando-se em desenho e cursando arquitetura. No Império, militou no trabalhismo, criando a Liga Operária Bahiana e, na República, foi um dos fundadores do Partido Operário, a partir do qual foi conduzido para o cargo de Conselheiro Municipal por duas legislaturas (1891-1892 e 1897-1899). Desligando-se da política partidária, iniciou uma outra militância, ao se dedicar à produção de conhecimento e ao magistério. Pelo trabalho intelectual que produziu, Querino se consolidou na sociedade baiana, garantindo prestígio no meio intelectual e no meio operário.