Autor de um dos livros mais populares da poesia brasileira em todos os tempos, Juca Mulato, Menotti del Picchia foi também cronista, romancista, contista, ensaísta. A poesia, porém, teve primazia cronológica e sentimental em sua obra.Nascido em São Paulo, em 1892, Menotti estreou naquele período de lusco- fusco da poesia brasileira, entre o esgotamento do parnasianismo e a Semana de Arte Moderna. O primeiro livro, com um título provocativo, ao gosto da época, Poemas do Vício e da Virtude, revelava um temperamento original, asfixiado pela linguagem neoparnasiana.O sucesso veio cedo, com a publicação do Juca Mulato (1917), onde traduzia "o gênio triste da nossa raça". O poema é uma espécie de resposta ao Jeca Tatu, de Monteiro Lobato, desanimado, doentio. Juca Mulato, sentimental, cantador, trabalhador, representaria as melhores virtudes do "brasileiro típico".Para uma parcela da crítica, essa poesia, por suas raízes e visão do homem brasileiro, antecipava-se ao modernismo. Cassiano Ricardo chega a proclamar que o verdadeiro chefe do modernismo não foi Mário ou Oswald de Andrade, mas Menotti del Picchia.A poesia modernista de Menotti, expressa em Chuva de Pedra (1924) e na rapsódia República dos Estados Unidos do Brasil (1928), é solar, plástica, colorida, abundante em imagens, procurando realizar no plano artístico a diretriz traçada pelo próprio escritor alguns anos antes: "arte brasileira deve ser brasileira, isto é, girar na ambiência física e moral da nossa terra e do nosso povo".Os poemas da maturidade, reunidos em O Deus sem Rosto, revelam um poeta mais intimista, mais grave, inquieto ante o mistério da vida, debruçando-se sobre si mesmo, em busca do menino que foi um dia, com um "dom demoníaco de se renovar, para permanecer" (Cassiano Ricardo).