Paul Wittgenstein, sobrinho do filósofo Ludwig Wittgenstein, trabalhou durante toda a vida num único livro: “Deus é igual a 13 – considerações conflitantes sobre Einstein, Freud, Jesus de Nazaré e Buda”. Cedo, aos 35 anos, os psiquiatras detectaram em Paul sua doença mental. “Durante um século, os Wittgenstein produziram armas e máquinas”, diz Thomas Bernhard, “depois, para coroar, eles terminaram produzindo Ludwig e Paul, o famoso filósofo de importância histórica, e o louco não menos famoso (...) ambos foram, cada um ao seu modo, os grandes pensadores sempre estimulantes, originais e subversivos dos quais qualquer época, e não apenas a deles, pode se orgulhar.” Num monólogo contínuo, sem pausa para olhares contemplativos, Thomas Bernhard narra seu encontro com Paul Wittgenstein numa clínica – Thomas recuperando-se de uma operação pulmonar e Paul, na ala psiquiátrica. Crítico demolidor, Bernhard vai além de um exasperado questionamento sobre vitalidade, decadência, morte e loucura. Em “O sobrinho de Wittgenstein”, ao compor o elogio póstumo a Paul Wittgenstein, o autor disseca a angustiante condição de homens talentosos, mas incapazes de realizar uma obra.