As crónicas teimam em apresentar o pirata como um tipo sem escrúpulos, que bebe fabulosas quantidades de rum e apenas confidencia com o papagaio que se apoia no seu ombro. O tapa-olhos pode ser um adorno, como o brinco na orelha, ou um pretexto para concentrar todo o seu poder visual num único ponto e assim melhor calibrar as intenções alheias porque, caso de ter uma eiva, o pirata seria manco ou arrastaria uma perna de pau. Males do ofício. Ninguém sabe com certeza se o pirata é um romântico que canta canções de amor na borda do navio, mas tudo indica que um marginal como ele nunca escreveria um diário, essa literatura de senhoritas que, de maneira despudorada, decidem publicar a sua intimidade como se ainda fosse permitido falar. Em tempos de pandemia revelar o privado é proibido, como caminhar pelas ruas ou visitar cantinas. Em tempos de pandemia também não é permitido andar com a cara descoberta, nem estar perto d@s demais, abraçar ou tossir; [...]