Em um verdadeiro roteiro de fé e superação, o autor nos leva a percorrer o mesmo caminho feito por São Francisco de Assis durante suas pregações itinerantes pelo interior da Itália. Motivado pelo espírito de solidariedade, ele inicia a peregrinação pelos quase 300 km, entre as cidades de Dovadola e Assis, no dia em que completa 40 anos de idade. O propósito é atrair apoiadores e obter doações para um projeto muito maior do que o desafio a ser encarado. Todo o trajeto é feito a pé e de skate, em um misto de religiosidade e aventura. E é isso que acaba despertando a curiosidade até mesmo da comunidade local, já acostumada com a movimentação de peregrinos e turistas de diversos países. O cansaço e a exaustão que se fizeram companheiros de jornada nos dão ainda mais certeza de que o amor ao próximo também é capaz de promover uma mudança interna e elevação espiritual. Ao longo de quatro décadas na Polícia Federal, Luiz Antonio da Cruz Pinelli perdeu a conta dos criminosos que ajudou a colocar na cadeia e das toneladas de drogas que não chegaram ao destino graças ao seu trabalho. Nem sempre agindo apenas nos bastidores, no trabalho silencioso e sagaz de “unir pontas soltas de uma investigação”, mas também na linha de frente, no perigoso “jogo de gato e rato”. Agora é hora de prestar contas à história, o que ele faz em grande estilo aqui no seu livro Agente 114, o Caçador de Bandidos. O agente da Polícia Federal vem a público fazer o balanço de uma das mais belas carreiras que um agente de segurança pública pode almejar. A atuação de Luiz Pinelli é essencial para se entender a história do combate ao narcotráfico no Brasil. O agente personifica a evolução do aparato de segurança pública do País no combate ao mal das drogas, das barreiras pouco eficientes nas fronteiras, na década de 1980, ao uso de tecnologia de ponta na vigilância de alvos muito sensíveis. Não há uma operação relevante de combate ao tráfico de entorpecentes que não conte com a sua participação, em maior ou menor grau. Sem mencionar ações contra quadrilhas de ladrões e sequestradores. Está tudo aqui: campanas sem fim nos sertões afora; um paciente trabalho de escuta telefônica; o tirocínio capaz de resolver um rumoroso caso de sequestro a partir de uma videolocadora; tiroteios que por mais de uma vez colocaram a vida do agente por um fio. “A persistência talvez seja o grande segredo no combate ao narcotráfico”, afirma. Pinelli não sabe quantos Natais, Dias das Mães, aniversários dele e de familiares passou longe de todos, a trabalho. E confessa: “Todo policial tem histórias tristes para contar”. Tanta ação narrativa provoca um efeito anestésico no leitor – por ironia, quase como o das drogas que o agente combate: difícil abandonar a leitura deste livro. Que privilégio para o País ter um policial da qualidade de Luiz Pinelli. E, agora, que grande oportunidade a de saborear suas melhores histórias.