Na última década de século XX, o sistema mundial viveu grandes transformações. Como o colapso da União Soviética, o fim da Guerra Fria, e a reunificação da Alemanha; a hegemonia das idéias e políticas neoliberais, a nova economia da informação, e a globalização dos mercados financeiros. E por trás de todas estas mudanças, estava a vitória e a projeção global do poder americano. Naquela década de 1990, muito se discutiu o fim das fronteiras nacionais, a vitória dos mercados e da globalização econômica, e a necessidade de uma liderança mundial, exercida pelos Estados Unidos. No início do século XXI, entretanto, a conjuntura internacional mudou, depois dos atentados de 11 de setembro de 2001. A economia mundial entrou num novo ciclo de crescimento generalizado. Mais recentemente, entretanto, depois do fracasso da ocupação americana do Iraque, do renascimento da Rússia, e da explosão da China; e depois da crise hipotecária norte-americana, do derretimento do dólar e do novo choque do preço do petróleo, fala-se cada vez mais do fim ou do colapso do poder mundial dos Estados Unidos. O MITO DO COLAPSO DO PODER AMERICANO reúne três artigos que compartem a mesma visão crítica com respeito a estas profecias sobre o futuro do poder americano e do sistema mundial. No primeiro artigo, sobre a conjuntura internacional, do início do século XXI, José Luís Fiori propõe uma leitura alternativa do sistema mundial, visto como um universo em expansão contínua, onde todas as potências que lutam pelo poder global, estão sempre criando, ordem e desordem, expansão e crise, paz e guerra. No segundo artigo - sobre o padrão dólar flexível, a economia americana e a expansão recente da economia mundial - Franklin Serrano trata da economia americana e de sua relação com a economia mundial nos anos 2000. O autor tenta mostrar que o padrão dólar flexível não está em crise. Argumenta também que um problema estrutural da economia americana é o ritmo relativamente baixo de crescimento sustentado da demanda agregada, agravado pela desregulamentação financeira e pela crescente desigualdade da distribuição de renda. No terceiro e último artigo, que trata da economia política da transição na China e na Rússia, Carlos Medeiros compara as estratégias de reforma de Gorbatchev na URSS e as de Deng Xiaoping na China e discute as razões econômicas políticas que levaram ao colapso da União Soviética e a transição em condições de alto crescimento da China. E argumenta que para este resultado foram decisivas as pressões americanas, a coalizão do poder político, a concepção estratégica das reformas e o modo como a liderança reformista construiu politicamente e administrou os conflitos do processo de mudança. Os autores de O MITO DO COLAPSO DO PODER AMERICANO estão convencidos que o caminho da transformação social começa pelo estudo rigoroso da realidade, e compartem a convicção de que é necessário distinguir a análise objetiva dos fatos, dos desejos e esperanças dos próprios autores.