Linhas férreas cortam paisagens, emprestam-lhes movimento e pouso, determinam os campos de trânsito e comércio, sublinham os espaços de multidão e exílio. Se a imagem que organiza esta coletânea de contos curtos suscita rigor plúmbeo, é apenas para conferir mais acento ao colorido de transbordamentos e latências que dominam cada uma das situações colocadas um vizinho malcriado, o instantâneo de um homem que descansa em frente ao mar, um casal e suas distâncias numa mesa de restaurante, uma menina e os significados da casa da avó. Histórias em que o tempo da ação se vê dominado pela força gravitacional da memória e suas projeções; o foco narrativo dominado pela perplexidade ante o mistério da manifestação exterior de medos e desejos; o silêncio que contorna experiências de cárcere, fraternidade e impermanência os quadros expostos dão notícia de um universo em que pouco interessam identidades regionais ou predominâncias do urbano ou rural: teatros, praças, praias, restaurantes [...]