Em O ADVERSÁRIO, Carrère revela a insólita — e assustadoramente real — história de Jean-Claude Romand. Durante mais de dez anos, de segunda a sexta-feira, Jean-Claude beijava a esposa e embarcava em seu BMW rumo a uma fantasia cuidadosamente arquitetada. Para toda a família, ele era um médico da Organização Mundial de Saúde. A suposta jornada de trabalho era cumprida em restaurantes à beira de estradas ou em passeios. Para dar mais veracidade à sua história, ele chegava a visitar a sede da OMS, na Suíça, de onde retornava com vários papéis timbrados, numa tentativa de manter a farsa. Quando suspeitou que estava para ser desmascarado, o falso médico não hesitou: preferiu eliminar as pessoas que amava e que gostaria que fossem poupadas de tamanha humilhação. Em 9 de janeiro de 1993, os vizinhos que se aglomeravam diante da mansão dos Romand testemunhariam a retirada de dois sacos plásticos, cinzentos e lacrados, com os corpos de seus filhos. Em seguida, a equipe de resgate traria para fora a mãe das crianças, Florence, já sem vida. Finalmente, ainda vivo e com fraco batimento cardíaco, Jean-Claude. No dia posterior ao assassinato da família, descobriu-se também que Jean-Claude matara ainda o pai, a mãe e o labrador dos pais. Intrigado por esse crime brutal, Carrère passou a se corresponder com Jean-Claude antes, durante e depois do julgamento. O resultado dessa espiadela na mente de um psicopata é um texto marcante, que nos faz reler diversas vezes suas passagens mais chocantes, tentando compreender também a razão que levou Jean-Claude a viver todo esse tempo por trás dessa máscara.