"O Inferno de Strindberg não é um livro, não é vivido pelo leitor como um livro, mas sim como uma experiência." A afirmação de Pier Paolo Pasolini no posfácio deste volume pode dar uma ideia do impacto que esta obra é capaz de provocar, como se, com ela, tivéssemos acesso ao mais íntimo de um autor genial, complexo e contraditório. Misto de diário, ensaio e ficção, o texto do grande dramaturgo sueco August Strindberg (1849-1912) é um mergulho nos subterrâneos de seu tumultuado mundo psíquico, no qual a vontade individual parece estar submetida ao poder de forças inconscientes, que transformam o homem num joguete atormentado. Escrito em francês entre 1896 e 1897, em Paris, no sul da Áustria e na Suécia, é também o testemunho da mania de perseguição de Strindberg, de sua religiosidade supersticiosa, de sua misoginia e misantropia - mas principalmente de sua solidão, de sua loucura e de seu sofrimento radicais, que o levariam, inclusive, ao desvario de tentar sintetizar ouro à maneira dos alquimistas. Tudo isso - somado a uma escrita espiralada, fluente, que a premiada tradução de Ismael Cardim preservou em sua inteireza - faz de Inferno uma obra de originalidade quase sem paralelo na literatura moderna.