Essas palavras me trazem sempre à lembrança episódios dos mais remotos da minha existência: minha mãe me levava pela mão até a frente de um grande portão de ferro, onde um homem fardado, lá dentro, atendia, recebendo dela alguns documentos. Enquanto esperávamos, eu me distraía com o que podia ver, à altura de meus olhos, através do portão: um muro alto, branco, cuja base era bordejada por um estreito canteiro, onde um homem, de macacão azul, gorro na cabeça, remexia umas plantinhas. Quando finalmente o homem fardado voltava e nos admitia, abrindo o portão, o homem de macacão azul se aproximava de mim, um sorriso desdentado na grande cara vermelha, e me oferecia um raminho de violetas, que acabara de colher, porque tinha muita pena daquela menina pequenina que estava ali para visitar o pai, preso, político, retido no setor "Sala da Capela" daquela cadeia, com os companheiros de 1932... Eu tinha quatro anos de idade...