A situação cultural global alterou-se radicalmente nas últimas décadas. O movimento independentista que, a partir da década de 50, fez surgir novos países que começaram a rever as suas histórias já produziu novas expressões culturais, algumas das quais circulam globalmente. No final do milénio, o fim do muro de Berlim e o surgimento de novos países a Leste impuseram novas interrogações sobre a noção de Europa e sobre o legado da filosofia ocidental. A emergência no Ocidente de práticas culturais industrializadas provenientes de países do Oriente, como a Índia, a China e o Japão, implicou toda uma revisão de regras de recepção artística e estética. A violência ditada por dogmas culturais expressa no 11 de Setembro de 2001 produziu um arrefecimento da estratégia intercultural e produziu a queda de sentidos da negociação cultural em desenvolvimento. A mundialização do mercado das artes e da cultura, associada à tecnologia da comunicação que acelerou os processos de informação e de distribuição cultural, impõem novas grelhas epistemológicas, exigem uma reflexão profunda e continuada que ultrapasse os instrumentos de análise da antropologia, da estética, da sociologia e da economia da cultura que, até há décadas atrás, ainda eram válidos e tinham alguma eficácia. O actual Estado do Mundo cultural aparece-nos como uma nebulosa confusa, imprevisível na sua evolução, inapreensível nas figuras que vai gerando.