" O "Poema doido", contruído em quadras rimadas com versos decassilábicos, é uma longa descrição dos vários reinos da natureza, até chegar ao "nosso super-homem presunçoso". Embora basicamente descritivo e até científico, seu clima é de desencanto e de mordacidade. Por vezes cáustica, obra brincalhona. Embora ferina, a sátira não contém amargura nem revolta. Sem fé e sem esperança, e ainda risonha, "girando em roda eterna a vida dança". E chega até um certo lirismo amargo na parte final, talvez a melhor, onde, em fantasia, o poeta se descreve como a toda espécie humana, da infância à velhice, sempre em lúdica conformidade com o tempo e o destino, neste périplo sem retorno que é a vida humana. Neste ponto, pela fria serenidade do sarasmo, ele se torna dramático,aí negando-se a si mesmo. A riqueza de um poema é muitas vezes sua contradição interna. Em inextrincável dialética, o sorriso céptico deixa transparecer um certo heroísmo estóico. "Mostrando a vida não passar de um jogo", e ser sempre "recalcada em velhos ritos", o poeta brinca consigo mesmo, em admirável coragem existencial porque sem o apoio em fé no Transcendente. Folgo em saudar o ingresso do velho e querido amigo, agora novel poeta, na imensa fraternidade da poesia."