Culturas em choque, em fusão, gerando novas percepções e novas dinâmicas, constituem áreas de predileção tanto do Instituto Goethe quanto da Estação Liberdade, ora por natureza, ora por vocação, e que já publicaram conjuntamente Julia Mann: uma vida entre duas culturas, homenagem ilustrada à figura de Julia Mann. Esta obra reúne os textos premiados assim como as menções honrosas. Como prevê Ignácio de Loyola Brandão em seu prefácio, a qualidade dos textos finalistas trazia em si a revelação de talentos. Talentos esses que achamos ter encontrado à flor da pele no extremamente bem lapidado conto de Francisco Maciel, o vencedor deste concurso, de quem já contratamos a edição do romance O primeiro dia do ano da peste; ou ainda no conto inquietante e cheio de circunvoluções do segundo colocado Marcelo Macca, que (não deixando nada ao acaso) foi se empregar no meio editorial. Ou ainda no politicamente tão incorreto texto de Guilherme Vasconcelos com seu relato de jornadas braçais londrinas, ou ainda em José Paulo de Araújo, em cujo "XRM-2600" disparidade cultural e a burocracia kafkeana contracenam para deleite do leitor, ou ainda nos embates de amores púberes do talentoso Renato Modernell em "Irene e o barômetro". E mais: o conciso e denso, com veleidades mitológicas, texto de Alejandra Saiz, o lirismo repleto de reminiscências andaluzes, mas nada áridas, de António R. Esteves, sem esquecer a abordagem redonda e objetiva do mundo das palavras em Sérgio Repka. Uma safra entre dois mundos, talvez, mas quem sabe a cultura já não estaria bastante fusionada, integrada, esculpida em novas convergências?