No decorrer desta obra, das transfigurações e exortações que ela suscita, das emoções que afloram a todo instante, há efusões interiores, introspecções que se multiplicam e se desvelam. Para Nietzsche, pensador atópico, toda palavra é um santuário, cada frase um rio de devoção, de lirismo e fervor. O tema, por certo, desperta um grande interesse cultural, uma grande expectativa, tanto entre os filósofos como entre escritores, historiadores, poetas, psicólogos, teólogos e artistas. Um grande teólogo observou alhures, que Nietzsche é o antípoda ideal dos cristãos, aquele interlocutor superior com o qual terá que se confrontar ao longo de toda a sua vida, incessantemente. Não seria inoportuno ressaltar que o objetivo desse estudo é quase inédito, mesmo em nível internacional. Pela primeira vez - à exceção de Jaspers - um leitor de Nietzsche é, simultaneamente, um psiquiatra e um nietzschiano. Os poucos trabalhos que se referem à patologia mental desse pensador e poeta, são fragmentários, ocasionais, circunstanciais ou incompletos, não o desenvolvendo de maneira sistemática. Uns e outros desconhecem ora a temática do filósofo, ora sua enfermidade psicótica, impedindo-lhes uma visão sinótica do poeta-pensador. No mais inexpressivo delírio, em seus escrínios mais subterrâneos, há confidências que elucidam. Todos os estudiosos de Nietzsche esperam por um trabalho psiquiátrico que corresponda a essa expectativa.