O dizer eminentemente poético que, na prosa de Vergílio Ferreira, se diz, insinua se nos a partir da secreta instância do tudo por dizer que nesse dizer se oculta.As suas obras, que são uma só, a romanesca, a ensaística e até mesmo a diarística, formam um quiasma vivo (o desprezo que Vergílio nutria pelas "verdades indiferentes"!), sempre naquela balbuciação em sangue de um valor que definitivamente nos pacificasse a alma.Nessa busca ansiosa de um além que importaria, além de tudo, o fosse já cá, nesta vida, e que é o valor absoluto, Vergílio Ferreira desdobra se num balanço doloroso entre o irrecusável do "homem fundamental" e o mísero destino que o espera na escuridão opaca do túmulo. E vai reclamando das estrelas um desígnio que sabe estar destinado a dissipar se na terra.A extensa obra de Vergílio Ferreira não cessa de nos alarmar com imprevistas fosforescências, não raro cintilantes, de sentido, um sentido que se faz da dramática consciência do excesso que nos constitui, mas que, afinal, é "tanto para nada". E um intersticial vislumbre de um futuro que nos contrariasse neste nosso clamor de nada eis que percorre, apofaticamente, toda a obra vergiliana cujos heróis, inchados de augúrio e de promessa, acabam por soçobrar, vítimas da "Sem Razão" da "Grande Ordem", sob o peso, enfim, de um destino à medida da "barriga das minhocas".Mas, no fim de tudo, que é, paradoxalmente, um final que se sente desde o início, subsiste em tudo o que por Vergílio foi dito um doce mas inquieto travo de insubmissão e de uma ínvia esperança, por entre o tumulto do incessante e estrénuo caminhar. Porque não nos aguarda a placidez serena da chegada, mas essa infinda sucessão de pontos de partida impõe se nos apenas isto: ser homens "até mais não..." E sê lo na esquálida razão de o ser.