Meu escrever ressurgiu com a morte de um amigo, um irmão. Assim que eu soube de sua morte, comecei a rabiscar, lembrando os momentos que passamos juntos, as muitas caminhadas pela vida, os nossos sonhos de juventude. E isso me levou a buscar caderninhos, folhas soltas, cartas não enviadas, pedacinhos de vida. Perdi algumas vezes os fios da meada, no meio de páginas esquecidas e amareladas. Nesse escrever, as lembranças foram surgindo, as viagens, os momentos voltando. Enquanto a lua ia nascendo serena, fui montando esse quebra-cabeças, juntando pedacinhos, recriando lembranças. Reencontrei muita gente que tinha perdido por aí, lembrei de outras, ri e chorei em muitos momentos. Voltei aos natais perdidos da infância, ao cheiro dos banhos de chuva, aos sonhos de menina, aos vestidos engomados que eu detestava. Revi instantes, lugares, pessoas. Senti cheiros, barulhos, lembrei de músicas, e de pedaços de livros. Vieram até mim, devagar, cores, sons e sensações de muitos momentos.[...]