Prisioneiros é um romance policial concebido nos moldes que definiram o gênero na literatura universal. Não faltam ao seu enredo o suspense característico das famosas aventuras policiais consagradas sobretudo pelo cinema norte-americano, as cenas eletrizantes que pouco a pouco vão desnudando ao leitor a trama até então obscura e ainda a ser desfiada ao longo dos capítulos finais, a carga emotiva de seus personagens em busca de uma resposta às suas indagações sobre a vida e suas elaboradas investigações que fatalmente vão levar ao leitor a verdade até então disfarçada e ambígua no desenrolar da narrativa. Além desses elementos necessários ao desenvolvimento do gênero, contudo, o autor escolheu ambientar a sua história em um local não muito comum às obras congêneres da literatura nacional. Assim, o universo soturno e assustador das frias salas de necropsias dos incomuns Institutos de Medicina Legal (IML) e a densidade psicológica de seus técnicos acostumados a enfrentar a figura da morte no seu dia-a-dia são aqui abordados, mas não pela curiosidade mórbida que tais situações podem suscitar a um leitor desavisado, mas sim com a intenção clara de revelar-lhe as extremas dificuldades enfrentadas pelas equipes médicas na sua prática profissional e na vivência cotidianas. Desse modo, se, de um lado, cenas extremamente fortes e carregadas de imagens perturbadoras vão tecendo pouco a pouco a realidade dos personagens relacionados ao ambiente profissional em que atuam; de outro, a perseguição a um criminoso em série que rouba os olhos de suas vítimas vai pontuando a realidade de um Departamento de Polícia e de seus personagens envolvidos. Num estilo próprio e instigante, Celso da Silva constrói sua narrativa de modo espelhado, alternando ao longo dos capítulos duas tramas que ao final se encontram de modo surpreendente, revelando ainda uma terceira trama apenas anunciada no início do romance. Esse espelhamento, aliás, já está especialmente marcado na duplicidade de identidade dos gêmeos Célio e César Mancini, este último um técnico em necropsia cuja trajetória, marcada por momentos felizes e trágicos, estrutura as principais ações do romance.