Luís Otávio Burnier, o fundador do LUME, sempre nos contava uma história. Em realidade era mais a história de uma percepção. Dizia-nos em manhãs de trabalho e reflexão após muitos pingos de suor que lavavam a sala verde do LUME que quando via seu mestre Etienne Decroux em trabalho parecia-lhe que ele havia desenvolvido seu léxico expressivo tão complexo e completo para domar um leão interno. Tinha a impressão que Decroux utilizava sua tão geométrica e potente técnica como uma espécie de laço de corda ou chicote de domador para dominar essa força extraordinária que parecia emanar de Decroux e que Luís Otávio chamava metaforicamente de leão. Muitas vezes ao acompanhar alunos de Decroux dizia ele percebia até mesmo uma maior precisão de movimentos no espaço, um maior domínio técnico-geométrico-corporal afinal Decroux já estava com uma idade avançada em comparação com o vigor de seus jovens alunos mas o leão não estava lá. Não sentia o leão, dizia ele.