O que teria levado Kant, dois anos após a conclusão de sua monumental Crítica da razão pura, a escrever um novo livro que percorria os mesmos caminhos do primeiro e respondia às mesmas questões? Qual é a relação entre estes Prolegômenos a qualquer metafísica futura que possa apresentar-se como ciência e a obra precedente? Marco e divisor de águas da filosofia moderna, Crítica da razão pura tinha como argumento central a ideia de que a razão, deixada a si própria, engendra inevitavelmente ilusões que se articulam nos variados e conflitantes sistemas que compõem a longa história da metafísica especulativa. Com seu projeto crítico de restringir a atuação da razão ao domínio da experiência sensível, Kant pretendeu dar uma resposta à crise da metafísica, e deter o avanço do ceticismo, do qual Hume era visto como o principal representante. Mas as primeiras reações à obra revelaram inúmeros mal-entendidos. Sua crítica à metafísica foi interpretada como mais um sistema de metafísica, e Kant percebeu que várias passagens cruciais de seu argumento precisavam ser revisadas e esclarecidas. A própria extensão e complexidade do texto pareciam colaborar para essas incompreensões. Era preciso prover uma espécie de guia que expusesse de forma mais nítida e condensada os objetivos e as etapas da investigação, de modo a evidenciar a linha principal do argumento. Uma segunda edição revisada apareceria mais tarde, mas, antes disso, um novo livro fazia-se necessário, à guisa de resposta emergencial. E esse foi o papel do presente opúsculo.