Macbeth, célebre peça de William Shakespeare do início do século 17, narra a história de um regicídio cometido pelo personagem que lhe dá nome ao ser persuadido por três feiticeiras de que seu destino seria tornar-se rei. É esse, também, o enredo que forma a linha principal de "Macbett", releitura que Eugène Ionesco faz da obra shakespeariana. Escrita mais de três séculos depois, esta não poderia deixar de trazer indícios dos novos tempos. O tema do assassinato, por exemplo, ganha nova escala, dando lugar aos homicídios em massa - o que era familiar àqueles que presenciaram o horror da Segunda Guerra Mundial ou viveram sob regimes totalitários. O soberano Duncan, bem como os demais personagens de "Macbett", é movido pelo fetiche do poder, alcançado através dos consequentes massacres em massa que perpetuam. Na peça de Ionesco, a violência não se encerra em si mesma; pelo contrário, ela se expande e ultrapassa o palco ao encontrar ressonâncias com o contexto de escrita do autor.