"Algumas pessoas mais chegadas me saíram com essa. Era uma história de que eu tinha um menino, lá em casa, ele ficava debaixo da escada espiralada que leva para o primeiro andar. Em alguns momentos, alguns dias específicos, o menino aproveitava que eu estava dormindo, subia, ligava o computador e escrevia em meu lugar. Os melhores textos, portanto, os mais delicados, penso, seriam do tal menino, ou o Menino Tao, se for o caso. Estou começando a achar que é verdade. Nunca o vejo direito, mas penso que ele existe. Às vezes, quando abro a porta bruscamente, sei que ele conseguiu ficar quietinho, sem respirar muito, para que eu não o veja. Entre nós, portanto, vem surgindo uma cumplicidade de presença e ausência, e já nem reclamo quando ele escreve no meu lugar. No fundo, é bom ter alguém para escrever no lugar da gente, quando falta algo para dizer."