Neste Pontas soltas tardes de neblina, de Rogério A. Tancredo, o narrador toma a memória como matéria de invenção de si e de sua linhagem familiar, porque A memória, com o tempo, torna-se um labirinto sem saída e é preciso espernear contra essa dura realidade. Assim, a autoficção é o meio de inventar saídas onde estas não existem. Uma mãe amargurada e violenta, a ausência de um pai, as dificuldades financeiras no Brasil dos anos 1980. Em meio a um cenário turbulento, encontramos, por exemplo, a avó que criava histórias para manter nosso protagonista por perto. Pois, se contar histórias não redime o mundo particular de suas adversidades, no mínimo serve para nos aproximar como pessoas implicadas numa cumplicidade que extrapola os laços sanguíneos. Mas aqui não temos apenas amarguras. Tancredo soube muito bem temperar sua narrativa com momentos em que nossos sentidos são despertados e levados, deliciosamente, de volta ao vigor da juventude. A comida de nossa infância é (...)