Çeiva refunda o alfabeto que é todo apresentado como espetáculo barroco de sonoridades, o grafema e seu(s) som(ns) numa sinfonia dionisíaca que é o resultado da vida criada pelo encontro do pensamento do poeta com a terra da linguagem. Aqui, o estado bruto da fala, atravessada por uma vertigem sonora nos captura para a selva dos sentidos. Disrupções no corpo das palavras, abalo sísmico que fissura as sílabas pelas artes do trovão de um deus tupã que dos céus desta cosmologia nos olha a nós, macunaímas, ímãs de significados tatuados em nossos corpos febris. O poema emerge em Çeiva como âncora do sentido: a língua, assim como a terra, é materna e a palavra é feminina em sua permanente esquiva, sua face lunar oculta prenhe de significados que podemos apenas intuir, nunca apreender no todo. A çeiva éda ordem do feminino, as águas, as águas infindas da terra brasilis o som das águas é som da palavra, o som da seiva por dentro das plantas é o som da palavra, o crepitar da chama é o som da palavra, o baque das pedras no solo é o som da palavra, o vento das folhas é o som da palavra, numa permanente mímesis que infunde o tecido da poesia de Djami Sezostre. Assim, o poema nasce como uma flor percorrida por esta seiva sonora que nos dá o poeta.Nuno Rau