Nos últimos anos conheci muitos professores que, mesmo doentes, só faziam os procedimentos médicos durante suas férias ou nos recessos. É fato: mesmo adoecidos, continuamos trabalhando. As políticas que exaltaram a meritocracia como caminho para uma escola com bons resultados também estabeleceram mecanismos de punição aos que adoecem: há impacto na carreira, no salário e a responsabilização individual pelos resultados das avaliações externas. Essa responsabilidade foi sistematicamente sendo transferida para as escolas e delas para os professores, individualmente. Hoje, de fato, muitos colegas acreditam e sentem-se diretamente responsáveis pelo desempenho de seus alunos, independente do contexto em que a escola está inserida, assumindo uma carga que não lhes pertence, mas que continua com eles. Há hoje um forte sentimento de abandono; ficamos sozinhos enfrentando o aumento da violência no ambiente escolar, precárias condições de trabalho, o genocídio da juventude negra e pobre nas comunidades em que trabalhamos, o aumento da intolerância com a diversidade, salas superlotadas e propostas curriculares que não ajudamos a construir. Com a responsabilização do professor, o poder público se isenta de enfrentar os problemas estruturais da escola pública. E todos que podem a abandonam. A melhoria do poder aquisitivo de uma família é seguida da transferência de seus filhos para escolas da rede particular. Por outro lado, acredito que a opção pela docência guarda, em si, uma opção por contribuir, para interferir e ajudar a mudar o mundo de desigualdades e injustiças que temos. Este livro é uma importante contribuição para refletirmos sobre uma condição docente que fica silenciada e invisibilizada. Vale a pena a leitura. Vale a pena discutir cada ideia em nossos momentos de estudos e reuniões.