A relação de amizade entre os mais importantes líderes da esquerda latino-americana no século 20 é investigada no livro-reportagem de Simon Reid-Henry Che, o introspectivo. Fidel, o expansivo. Che, o internacionalista. Fidel, o líder cubano. Che, o jovem idealista de cabelos longos que se sacrifica pelos oprimidos. Fidel, o caudilho de barbas grisalhas que após 50 anos ainda controla a ilha de Cuba pelas mãos do irmão Raúl. A revolução cubana, que surpreendeu um mundo bipolar ao instaurar o socialismo no hemisfério ocidental, teve dois grandes líderes unidos pela ideologia e pela amizade e separados por suas escolhas. Enquanto Ernesto Che Guevara abdicava do poder estabelecido para aventurar-se na África e na América do Sul, Fidel Castro administrava um regime centralizado em seu país natal. Sobre essas duas figuras fundamentais da história recente é que se debruça o autor Simon Reid-Henry em Fidel & Che - Uma amizade revolucionária, com pesquisas feitas em Havana, Washington, Moscou, Miami, Princenton, Boston e Berlim - além de entrevistas com testemunhas da época. O livro mostra que, a partir de uma associação política, inicia-se um relacionamento de amizade e camaradagem que mudaria de fato suas vidas. Desde os encontros preparativos da expedição revolucionária no México até os últimos dias de Guevara, já cercado nas montanhas bolivianas sem esperança de fuga, enquanto Fidel vivia os dias mais duros da Guerra Fria em Havana, o autor percorre os caminhos políticos dos dois líderes, mas sem perder o foco no tema principal: o envolvimento pessoal. A narrativa de Reid-Henry guarda o melhor estilo jornalístico rápido e direto, uma envolvente reportagem, que mantém o leitor cativado com um ritmo que retoma a tensão dos acontecimentos daquela época. Apesar de tratar de figuras públicas com proeminência internacional, a pesquisa mantém a perspectiva das nuances e contradições de um relacionamento afetivo. Entre o mito, de Che, e o sempre equívoco destino humano, de Fidel, está a morte do primeiro a lhes separar. A realidade impõe limites à preservação de uma aura heróica, que só atingem os que morreram jovens. Ou aqueles que não se viram diante das escolhas e seduções do poder. Guevara abandonou Cuba uma vez concluído o processo revolucionário para morrer em combate na selva. Fidel administra há 50 anos um estado burocratizado. A pesquisa qualificada e a argúcia narrativa de Simon Reid-Henry, no entanto, têm o dom de devolver ao leitor, para além da história oficial, a figura de dois homens. Homens que emergem com o frescor da vida, por detrás das efígies do velho líder autocrático e do semideus generoso.