Circuito fechado, volume de contos que ganha nova edição pelo selo Biblioteca Azul, da Globo Livros, traz todas as características que fizeram seu autor, Ricardo Ramos, ser considerado um dos mestres da narrativa curta no Brasil. Dizer muito com poucas palavras, extrair da frase mínima o máximo de sentido, primar pela concisão. As razões que justificam o amplo alcance de sua literatura ficam evidentes, por exemplo, nas primeiras frases de "Circuito fechado (4)", um dos textos que batizam o livro: "Ter, haver. Uma sombra no chão, um seguro que se desvalorizou, uma gaiola de passarinho. Uma cicatriz de operação na barriga e mais cinco invisíveis, que doem quando chove. Uma lâmpada de cabeceira, um cachorro vermelho, uma colcha e seus retalhos". Na enumeração de substantivos aparentemente desconexos, a nostalgia das miudezas que constituem o cotidiano de qualquer vida. Além da extrema habilidade no trato com a palavra, o escritor dividiu com o pai, o escritor Graciliano Ramos, a preocupação com as questões sociais e políticas. A nova edição conta com apresentação de Alcides Villaça e prefácio de Lygia Fagundes Telles. Segundo a escritora, "Ricardo Ramos foi o autor perfeito diante da fragilidade do leitor que busca encontrar no livro uma chama de esperança para aliviar o homem neste mundo tão difícil". Alfredo Bosi, na introdução da antologia do conto brasileiro contemporâneo, organizada por ele na década de 1970, aponta que "a matéria dos textos curtos e substantivos" de Circuito fechado é "a sociedade de consumo que se reinventa pelo miúdo no elenco de objetos e hábitos compulsivos".