José J. Veiga foi um cidadão do mundo da fantasia plena, aquela região misteriosa onde os sonhos se intrometem na realidade e fenômenos estranhos sacodem os alicerces da razão e zombam da lógica. A sua obra de ficcionista está povoada por fantasmas bonachões, nada fantasmagóricos (no sentido usual do termo), mais capazes de encantar do que assustar, objetos que se humanizam, mas também de casos de horror, mistério, sobrenatural, estranhos, por vezes terríveis, quase sempre com um sentido de alegoria. Ou de parábola kafkiana, como no conto A Máquina Extraviada, uma assustadora reflexão sobre a falta de sentido da vida humana. Parábola, apólogo ou alegoria, surrealismo ou realismo mágico, a ficção de José J. Veiga é mais libertação do que evasão, libertação dos estreitos limites da realidade física, das impossibilidades materiais, abertura ao onírico, à janela para o caos, aos apelos do desconhecido, mas sempre contida pelo senso crítico, a preocupação de não resvalar no extravagante pelo extravagante. Sob a nudez forte da fantasia, o escritor estende o manto diáfano da inquietação com os destinos e limites do ser humano e do simbolismo social. A Hora dos Ruminantes foi até interpretada como apólogo político, inspirado no movimento militar de 1964, o que o transformaria em autor engajado. Veiga negou com veemência, afirmando ter escrito a obra antes do fato. O que não a impediu de se ajustar à situação como uma luva. Mas nem tudo são símbolos ou apólogos. Há também contos extraídos da banal realidade do cotidiano, nos quais Veiga demonstra grande delicadeza em identificar problemas sociais (como em Cachimbo) ou recriar, com uma leveza e poesia que lembra Katherine Mansfield, um simples diálogo de crianças (Diálogo da Relativa Grandeza). O escritor sabia se movimentar em muitos terrenos.Jose J. Veiga foi um cidadao do mundo da fantasia plena, aquela regiao misteriosa onde os sonhos se intrometem na realidade e fenomenos estranhos sacodem os alicerces da razao e zombam da logica. A sua obra de ficcionista esta povoada por fantasmas bonachoes, nada fantasmagoricos (no sentido usual do termo), mais capazes de encantar do que assustar, objetos que se humanizam, mas tambem de casos de horror, misterio, sobrenatural, estranhos, por vezes terriveis, quase sempre com um sentido de alegoria. Ou de parabola kafkiana, como no conto A Maquina Extraviada , uma assustadora reflexao sobre a falta de sentido da vida humana. Parabola, apologo ou alegoria, surrealismo ou realismo magico, a ficcao de Jose J. Veiga e mais libertacao do que evasao, libertacao dos estreitos limites da realidade fisica, das impossibilidades materiais, abertura ao onirico, a janela para o caos, aos apelos do desconhecido, mas sempre contida pelo senso critico, a preocupacao de nao resvalar no extravagante pelo extravagante. Sob a nudez forte da fantasia, o escritor estende o manto diafano da inquietacao com os destinos e limites do ser humano e do simbolismo social. A Hora dos Ruminantes foi ate interpretada como apologo politico, inspirado no movimento militar de 1964, o que o transformaria em autor engajado. Veiga negou com veemencia, afirmando ter escrito a obra antes do fato. O que nao a impediu de se ajustar a situacao como uma luva. Mas nem tudo sao simbolos ou apologos. Ha tambem contos extraidos da banal realidade do cotidiano, nos quais Veiga demonstra grande delicadeza em identificar problemas sociais (como em Cachimbo ) ou recriar, com uma leveza e poesia que lembra Katherine Mansfield, um simples dialogo de criancas ( Dialogo da Relativa Grandeza ). O escritor sabia se movimentar em muitos terrenos.