Autor, personagem e leitor. Dessa tríade, os autores provavelmente reconheceriam o desejo que tem o homem de identificar-se com suas criações, de ser o mundo sem cessar de ser ele mesmo. Os leitores - cúmplices dos autores durante o ato criativo de preencher os espaços em branco entre as palavras - poderiam também gozar a possibilidade de viver outras vidas, as dos personagens, prodígio de que a literatura os torna capazes. Mas e os personagens de um romance de amor e drama, de um romance policial, de qualquer volume nascido para nos levar às lágrimas, às risadas ou à reflexão? Aceitariam eles passivamente a missão que lhes foi outorgada, a de sofrerem e serem felizes em benefício da literatura? São os labirintos dessa questão que a narrativa de Nunca o nome do menino percorre. Entrelaçando-se, dois tempos distantes na vida da personagem principal nos são narrados, duas linhas que se estendem da primeira à última página como serpentes ávidas por devorar o próprio rabo e criar uma narrativa de vertigem, repleta de espelhamentos, ciclos e sentimentos. Uma mulher nos relata os dias de sua vida que se seguiriam ao momento em que sedescobre personagem de uma ficção que não aprecia e cujo autor despreza. Ela nos conta, ainda, os fatos de sua vida passada - o amor de um menino, o convívio com o próprio corpo em transformação, a relação com os pais - que a conduziriam a tal descoberta. O que fazer diante de tão angustiante possibilidade?