Por Maria Marta Pereira Scherre, UFRJ/UnB O domínio natural de uma ou mais línguas é o nosso dom maior. É a expressão plena da democracia. É o exercício inequívoco da cidadania. Portanto, a Idéia da superioridade lingüística é tão perversa quanto a idéia da superioridade da raça, de cor, de cultura, de sexo e de religião. O preconceito lingüístico, derivado do equívoco milenar da superioridade lingüística, é o mais perigoso dos preconceitos: ele é naturalmente aceito pela comunidade, que transita, sem perceber, pela tênue fronteira entre língua como mecanismo de identificação e língua como mecanismo de poder. Vemos com clareza a exploração política e econômica, mas não enxergamos prontamente a dominação lingüística. É fácil dominar ou se deixar dominar por meio de línguas ou dialetos de prestígio. E isso tem de ser discutido! Tem de ser publicamente debatido! Tem de ser continuamente denunciado! É exatamente este papel cidadão que o cidadão Marcos Bagno tem exercido com maestria nos últimos anos em A Língua de Eulália e Preconceito Lingüístico. É exatamente este papel que Marcos Bagno continua a exercer nesta nova obra, fruto de um trabalho corajoso, arrojado, assumido, extremamente cuidado, criteriosamente apresentado e de qualidade ímpar. A luta contra o preconceito lingüístico parece ser uma luta insana. Por isso, esta Dramática da Língua Portuguesa se reveste de importância inquestionável. É um texto que provoca mudança de mentalidade. É firme, forte e até radical. Mas os comandos paragramaticais – a mais lamentável personificação do preconceito lingüístico –, seriamente discutidos e duramente criticados neste livro, merecem mais do que o tom radical de Marcos Bagno: merecem a rejeição pública de todos nós.