O mais memorável número de dança isolado do cinema é o solo de Gene Kelly, em Cantando na chuva. O livro de Peter Wollen que leva o nome do filme, revela uma profundidade que se oculta na aparente frivolidade da obra, apresentando a trajetória de Kelly, a história do cinema americano nos anos 40/50 e uma análise da realização coreográfica no processo cinematográfico. O autor também esclarece que a construção do cenário onde ocorreu a seqüência de Cantando na chuva exigiu um complexo trabalho de engenharia, com iluminação especial e água colorida para tornar o temporal visível. O ator-dançarino passa algumas lições preciosas. Primeiro: o movimento num filme é sempre movimento em relação à câmera, e o feito visual de olhar através do olho da câmera para uma tela é diferente daquele de olhar por um olho humano para um palco. Segundo: movimentos laterais, se não forem minuciosamente planejados, anulam-se uns aos outros. E por fim, quem quer ou o que quer que você esteja representando, você tem que permanecer totalmente dentro do personagem enquanto dança”, ensina ele. O filme trata de um momento crucial na história do cinema, o da chegada do som, levantando questões acerca das relações entre som e imagem, autenticidade e inautenticidade e assim por diante, tudo revestido generosamente de canções, piadas e brilhantismo de espírito.