Breve e lancinante são palavras prováveis para aproximar o espírito do nosso tempo à ideia que faço de escrever com o mínimo. O mínimo é o talvez possível, o talvez visível, quando o grande se torna invencível. Quis experimentar, como num laboratório, tirar o verbo, descobrir o adjetivo (deixá-lo nu!), usar o substantivo como predicado inteiro, a ambiguidade como brincos. Fazer do sujeito verbo, assaltar do sujeito que agora é verbo o objeto intransigente e ver o que sobra. Trocar de lugar, de sentido, a oração e o pensamento, a ver se com isso o sujeito termina menos determinado. Testar a resistência do que não é dito. A palavra manca, o capítulo cxxxix que Brás Cubas não teve. O resultado são textos de buraco de agulha (meio prosa bem passada, meio poesia crua) que, com sorte, furam aqui e aí, para então costurar. Elenice Zerneri